quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Do doméstico magistério da alma

ALB. Não haverá, ó Filóteo, voz de plebe, indignação do vulgo, murmúrio de tolos, desprezo de sátrapas, estultícia de insensatos, estolidez de "Joões-ninguém", informação de mentirosos, querela de malignos e detracção de invejosos, que me defraudem da tua nobre presença, e me furtem à tua divina conversação. Persevera, meu Filóteo, persevera; não percas o ânimo, nem retrocedas, pelo facto de, com muitas maquinações e artimananhas, o grave e grande senado da estulta ignorância ameaçar, e tentar destruir a tua empresa e labor. E podes ter a certeza que, ao fim, todos verão o que eu vejo, e conhecerão que é tão fácil a cada um louvar-te, como a todos é difícil ensinar-te. Todos, se não forem absolutamente perversos, de boa consciência formularão de ti opinião favorável, dado que pelo doméstico magistério da alma, cada um chega a ser instruído, porque os bens do intelecto não se alcançam por outro lado senão pela nossa própria mente. E porque na alma de todos, há uma certa santidade natural, que, assente no tribunal do intelecto, exercita o juízo do bem e do mal, da luz e da treva, acontecerá que, das próprias cogitações de cada um, se levantem em teu favor fidelíssimas e íntegras testemunhas e defensores. De forma que, se não se fizerem teus amigos, querendo por preguiça mental perseverar como teus obstinados adversários, e sofistas conscienciosos, em defesa da turba ignorância, sentirão em si próprios o carrasco e algoz que fará a tua vingança, e que, quanto mais oculto for no profundo pensamento, tanto mais os atormentará.
Giordano Bruno, Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, pp.178-179.

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